quinta-feira, 8 de julho de 2010

Senhor Brasil


Nascido em São Joaquim da Barra, na região de Ribeirão Preto, no ano de 1936, Boldrin se interessou cedo pela arte. “Tem coisas que são inexplicáveis. Aos sete anos, eu já me encantava com os auto-falantes, com o rádio, e tinha paixão pelo circo-teatro”, diz. Da família de 12 irmãos, Boldrin é o único artista e foi incentivado desde criança pelo pai, que percebera a vontade do menino em se apresentar para plateias.


Naquela época, a música caipira reinava no interior e formamos uma duplinha, eu e meu irmão do meio, Leili, chamada Boy e Formiga. Eu era o Boy. A dupla foi desfeita quando meu irmão decidiu seguir carreira no ramo do comércio. Mas eu não desisti de ser artista e fui em busca do sonho. Então, fui tentar a vida em São Paulo”, conta.

Quando enfim assinou o contrato profissional em 1960 com a TV Tupi, Boldrin viu a oportunidade com que ele sonhava todos os dias. Andando pelas ruas de São Paulo, ele mesmo se apresentava e imaginava como seria o momento em que finalmente ganharia os palcos e cairia no gosto popular. “E com vocês, o artista Rolando Boldrin! Era assim que eu me anunciava”, lembra.

Som Brasil

Durante os anos de 1981 a 1983, Boldrin enfim concretizou a ideia que tinha de levar a música popular às casas dos brasileiros. Foi quando comandou o Som Brasil, na TV Globo. Na trilha de abertura do programa, a canção ‘Vide Vida Marvada’, que foi imortalizada na memória do público. “Canalizei todo o meu trabalho nesse projeto e a recompensa foi grande.

Em um show em 1o de maio, em Londrina (PR), após a estreia do Som Brasil, fui ovacionado por 5 mil pessoas no estádio. Na hora me vieram à cabeça, os momentos em que eu mesmo me apresentava em São Paulo. Ali tive a certeza de que havia escolhido o caminho certo para a minha vida”, diz.

Amor pelo país

Boldrin não sabe definir ao certo de onde veio o amor e a vontade de cantar a cultura do país. “Lembro-me de um episódio aos 10 anos de idade quando eu e meu irmão fomos convidados para fazer um show no cine teatro da cidade onde nascemos. Antes da apresentação resolveram exibir um filme, então exigi que o longa fosse nacional. O que eu tinha em mente desde desde moleque era o amor pelo Brasil”, afirma.

O artista se vê um aficionado pela ideia de mostrar a cultura do Brasil. “Se eu tivesse nascido político, eu seria um visionário, eu tentaria ser um grande líder brigando pelo meu país e pelo meu povo. Mas como eu nasci artista, então eu canto a minha terra”.

Para Boldrin, que se considera um ator que canta, a simplicidade e a cordialidade do povo brasileiro são encantadoras. “Independente da região, o coração brasileiro é um só. Essa mistura de raças resultou em um pedigree maravilhoso”, brinca.

O ator tem mais de 200 obras gravadas, que vão desde moda de viola até samba. Mas entre tantos trabalhos, o ator não consegue elencar aquela que seja sua favorita. “Tudo o que eu faço, faço com o intuito de ser o melhor possível. Não entro em nada que não seja para me doar por inteiro. Precisa ser algo com que eu esteja comprometido, que me envolva”.

Admirador de nomes genuinamente brasileiros como os escritores Guimarães Rosa, Câmara Cascudo, Erico Veríssimo, e de músicos como Vinicius de Moraes, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque, Boldrin afirma que obras boas são aquelas que o fazem se sentir bem. “As obras destas pessoas são símbolos de brasilidade e inspiram meus trabalhos, porque elas me fazem viajar, mexem com meus sentimentos”, afirma.

Na estrada

Sobre os shows apresentados pelo país a fora, ele diz que gosta de estar sempre em contato com o público para sentir o que as pessoas perceberam ao ouvir as letras e as histórias sobre os tipos humanos enaltecidos. “Sei que consigo tocar as pessoas, pois elas vêm me cumprimentar emocionadas. Os espetáculos acabam servindo como uma injeção de ânimo, um estímulo. As pessoas sentem mais vontade de amar sua própria terra. Hoje, as pessoas se sentem mais seguras no Brasil e não querem mais sair daqui. Sou um político artista, não faço discurso, mas canto”, afirma.

Ele lembra de um show em Curitiba (PR), que ao final trazia uma enorme bandeira do Brasil. “Na ocasião, o então governador Jaime Lerner disse que a impressão que tinha ao ver a bandeira é que ela havia sido costurada durante todo o espetáculo, com as histórias dos personagens contados. Era como se todos os episódios cantados fizessem parte daquele grande pedaço de pano, carregado de significados”, conta.

Fôlego

Aos 73 anos, Boldrin esbanja fôlego para continuar produzindo. Atualmente, ele está a frente do programa Sr. Brasil, na TV Cultura.

"As ideias sempre vão surgir, elas não se perdem. Se conservarmos a essência, sempre haverá inspiração para compor e continuar levando a cultura regional a quem não tenha tido contato com ela”, finaliza.